Conclusões do Simpósio sobre o Programa Nacional de Produção de Biodiesel apontam principais perspectivas para o setor |
28.12.2010![]() O programa abordou o manejo da cultura da soja, o biodiesel no cenário brasileiro, aspectos econômicos do setor da soja, panorama de fontes de bioenergia, uso de resíduos da produção de biodiesel e rotas alternativas para a transesterificação; aquecimento global e biocombustíveis, mudança do uso da terra, avaliação de impactos e gestão ambiental na produção de oleaginosas para biodiesel, soja sob a ótica da ecologia industrial, diferenças e similaridades do setor de biodiesel alemão e brasileiro, inovações na produção de biodiesel no Brasil, biodiesel e a indústria automobilística e a plataforma nacional de agroenergia. As apresentações realizadas durante o Seminário, resumidas a seguir, estão disponíveis em http://www.gelqesalq.com.br/Site/portal.php?secao=palestras. Mauro Osaki da Esalq/USP, falou sobre a demanda da soja no mundo e principais desafios do setor, além de detalhar as soluções tecnológicas e os desafios da produção dessa oleaginosa que, ao longo daqueles dias em que ocorreu o Seminário, com o clima favorável em todo o Brasil, vinha sendo semeada ao passo de quase um milhão de hectares diários. A produção mundial de soja no último ano ficou em 255 milhões de toneladas, enquanto o consumo atingiu 222 milhões. China e EUA são os principais consumidores mundiais. Enquanto que os principais países exportadores são Brasil e EUA. A China é o país que mais importa soja. 55% das exportações brasileiras são para a China, principalmente óleo. O consumo de óleo de soja aumentou 12% ano a ano na última década. O Brasil está exportando mais grão de soja do que seus derivados, sinalizando pouco investimento no parque agroindustrial. Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Minas e São Paulo são os estados que mais processam óleo vegetal. A soja é a oleaginosa mais esmagada no Brasil, seguida pelo algodão. Thaís Vieira também da Esalq/USP, falou sobre rotas alternativas para transesterificação, que devem atender a padrões de qualidade. Sua principal questão foi "Biodiesel é renovável?" Segundo ela, há pontos a considerar na cadeia produtiva. As vantagens do processo por solvente renovável, como o etanol de cana-de-açúcar, elimina a etapa de destilação de solventes – com redução no consumo energético. Elimina também a necessidade de degomagem e a neutralização do óleo para a transesterificação. Thaís abordou também o teor de sólidos em biodiesel de diferentes matérias-primas, a viabilidade técnica e econômica da produção, processos viáveis pela rota etílica ou metílica, e a rota estratégica para o Brasil com o etanol. As principais matérias-primas utilizadas no país são soja, algodão, sebo, óleo de fritura, gordura de porco e frango. Thiago Romanelli Esalq/USP transcorreu sobre os panoramas das fontes de bioenergia, seus aspectos físicos, econômicos e ambientais. Trouxe ao debate a crítica de que o aumento de eficiência energética não adiaria o previsto esgotamento das fontes não renováveis, por causa de elasticidades na demanda. Por isso, a busca por sustentabilidade das fontes de energia deve motivar-se por objetivos maiores, não apenas restritos à oferta de energia, mas em consideração a outros valores naturais a preservar. Ressaltou que o caminho está sinalizado, já que a matriz energética brasileira tem 45% de proveniência de fontes renováveis. Gualter Rezende Barbosa da Dedini S/A Indústrias de Base falou sobre o que não é biodiesel. Óleo vegetal ou animal, mistura de etanol com diesel, hidrogenação e fracionamento de óleos com cargas de refinaria de petróleo, produto da reação química entre álcool e óleo vegetal ou animal com o propósito de substituir integral ou parcialmente o biodiesel. Apresentou, então, soluções industriais para produção de biodiesel de diversas origens, tecnologicamente provadas para o Brasil, como ácido graxo de palma, sebo bovino, integração bioetanol e biodiesel, sebo e óleos vegetais, de soja, de palma, de pinhão manso, além de matérias-primas de baixo custo como gordura animal, óleo de fritura usado, óleos ácidos, ácidos graxos destilados, óleos vegetais de alta acidez, algas, etc. As diversas matérias-primas possuem características intrínsecas que influenciam na especificação final do biodiesel. Como a matéria-prima representa mais de 80% do custo de produção, é importante que as plantas de biodiesel estejam preparadas para operar com matérias-primas diversas e que os processos industriais sejam flexíveis para processar os diversos tipos de matérias- primas, mas faltam ainda algumas soluções agrícolas competitivas em grande escala. Peter Zuurbier da Wageningen University and Research Centre discutiu combustíveis alternativos de fontes renováveis. O consumo mundial de óleo vegetal, com prevalência do óleo de palma, seguido pelo de soja em 2008-2009. A soja é a mais importante matéria-prima para o biodiesel no Brasil e Argentina, mas não para os países da União Europeia, onde o óleo de canola predomina. A sustentabilidade do processo abrange os temas meio ambiente, balanço de energia, balanço de carbono, biodiversidade e emissões de gases de efeito estufa, uso da água, fertilizantes, além dos aspectos sociais e condições socio-econômicas. José Fernando Menten da Esalq/USP abordou o uso de resíduos da produção de biodiesel – glicerina na alimentação animal. De acordo com ele, foram 230 milhões de litros de glicerina produzidos como co-produto em 2010. A aplicação na alimentação animal da glicerina obtida da produção de biodiesel (bruta ou loira) é uma alternativa segura para destinar o excedente do produto. Com as limitações impostas pela qualidade da glicerina e quantidade de inclusão nas rações, seu uso na alimentação animal vai depender de considerações econômicas. Daniel Furlan Amaral da ABIOVE - Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais falou sobre a conjuntura atual e as perspectivas do biodiesel no Brasil. O Brasil já é o terceiro maior produtor mundial de biodiesel, em vias de melhorar sua posição. Cada país têm objetivos e políticas de incentivos diversas. A alimentação determina a maior parte da demanda por óleos vegetais. O uso para biodiesel vem aumentando nos últimos anos e a taxa de crescimento para este combustível é maior que para outros fins. Há uma ampla variedade de matérias-primas – 10 oleaginosas, 12 farelos e 17 óleos e gorduras substituíveis, com elevada utilização do óleo de soja e sebo bovino. São os únicos que possuem escala e ampla distribuição regional necessárias para alavancar a produção de biodiesel no curto prazo, abrindo caminho para outros óleos vegetais. A soja é a principal cultura agrícola do Brasil, em volume e geração de renda. Mais de 216 mil produtores (pequenos, médios e grandes), espalhados em 15 estados. O setor gera cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos. O complexo soja foi responsável por 1,4% do PIB do Brasil em 2007. As exportações do complexo soja são uma importante fonte de divisas internacionais do país (cerca de 10% da exportação total). Os produtos do complexo soja permitem a produção de carnes, óleo para consumo humano e industrial, biodiesel e produtos da indústria química. A demanda por farelos está intrinsecamente relacionada à produção de carnes. Farelo de soja garante a produção barata de carnes. Países produtores se beneficiam da oferta local a preços mais baixos. Redução dos custos da cesta básica. O Brasil precisa aumentar a produção de oleaginosas com teor elevado de óleo. Soja e caroço de algodão garantem a oferta de óleos. Outras oleaginosas precisam de pesquisa para aumento da produtividade. Biotecnologia pode favorecer plantio em áreas com deficiência hídrica. Biodiesel é a chave para o desenvolvimento de outras oleaginosas. A palma possui elevada produtividade de óleo/ha. A produção de óleo de palma no Brasil tem grande potencial de crescimento. O zoneamento da palma e diretrizes de financiamento deverão orientar projetos sustentáveis. Estão aptos mais de 7 milhões de ha de áreas abertas, apenas na região Norte. Geraldo Stachetti Rodrigues da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) apresentou a avaliação de impactos e gestão ambiental na produção de oleaginosas no Brasil. Argumentou que o Programa Brasileiro de Agroenergia de ser encarado como uma iniciativa de desenvolvimento rural, antes que um objetivo de segurança energética. Com isso, enfatizou que as prioridades sociais – a produção deve contribuir para a prosperidade local e esta também deve contribuir para o bem-estar social de trabalhadores e das populações locais – são mais valiosas para o momento histórico brasileiro do que as motivações energéticas ou mesmo ambientais – ainda que estas também sejam favorecidas. O pesquisador apresentou resultados do projeto de pesquisa em rede da Embrapa sobre biodiesel, no qual verificou-se que vários impactos negativos previstos por força da intensificação na produção de oleaginosas, por exemplo pressão sobre habitats naturais e sobre a biodiversidade, ou comprometimento da qualidade das águas, não têm sido materializados no campo. Por outro lado, tampouco as vantagens socio-econômicas, ou mesmo de gestão de capacitação dos produtores, têm alcançado os ambiciosos objetivos a que se propôs o Programa Brasileiro. Concluiu, afirmando, que há oportunidades a realizar no PNPB, em especial enquanto a prioridade for dirigida aos produtores e suas condições locais para melhorar de vida. Fernando Lanfredi da AGO Corp discorreu sobre o uso de biodiesel em tratores. O Brasil tem tradição em biocombustíveis, com programas de desenvolvimento de combustíveis alternativos, como o Proálcool, misturas de álcool e gasolina, além de motores flex. Os benefícios do biodiesel para o país são o fortalecimento do agronegócio, o desenvolvimento regional sustentado, a geração de emprego e renda (diretos e indiretos), inclusive no campo, melhoria da qualidade do ar, melhoria da saúde pública, redução dos gastos com saúde, redução das emissões de CO2, reduzindo efeito estufa, redução de gastos com importação de petróleo destinados à produção de diesel e substituição de combustível fóssil por renovável. Com o uso de biodiesel em tratores, praticamente não houve variação de consumo no período de teste e constatou-se que não ocorreram desgastes nos motores. Carlos Vettorazzi da Esalq/USP falou sobre mudanças no uso da terra, um dos componentes mais dinâmicos da paisagem, que varia (no espaço e no tempo) em função de aspectos econômicos (programas de governo, economia de mercado, valor da terra), sociais (assentamentos), culturais (floresta, exploração comercial versus lazer), legais (áreas de preservação permanente) e pessoais (gosto de cada indivíduo). Cesar de Castro da Embrapa Soja (Londrina, PR) abordou o uso de matérias-primas para produção de biodiesel no Brasil. Houve uma evolução da área cultivada das principais culturas – mamona, girassol, amendoim, dendê e canola. O Brasil é o principal país com grande capacidade de produzir a produção de oleaginosas. A Embrapa desenvolve o Projeto micro-algas, que busca o desenvolvimento de tecnologias para a produção de micro-algas como fonte de óleo para a produção de biocombustíveis e aproveitamento de co-produtos. O seu potencial biotecnológico é devido à capacidade fotossintética, alta taxa de crescimento e produção de diversas substâncias sintetizadas por estes organismos. Vantagens: alta taxa de crescimento, menor demanda de água do que culturas oleaginosas e alta eficiência na mitigação de CO². Desvantagens: baixa concentração de biomassa e alto custo de capital. Como resultado das pesquisas até agora, temos o sistema de cultivo de dendê para pequenos produtores (dendê cultivado com culturas intercalares), a análise da relação custo benefício das culturas intercalares, o manejo da adubação e monitoramento da fertilidade do solo e do crescimento das plantas em diferentes sistemas de cultivo, além do sistema de cultivo de dendê irrigado e início de estudos da dinâmica da água no solo. Biagio Giannetti da Universidade Paulista – Unip tratou da questão da soja sob a ótica da ecologia industrial. Interação entre o sistema industrial e o ambiente. O sistema produtivo faz parte da biosfera. Os sistemas industriais e os organismos biológicos são sistemas abertos que se mantêm estáveis longe do equilíbrio termodinâmico e são exemplos de sistemas que se auto organizam dissipando energia. A principal diferença entre os sistemas naturais e industriais é que os primeiros contam com uma série de mecanismos de interação, que permitem o total reaproveitamento de materiais, com ciclos fechados onde apenas a entrada de energia é necessária. Os limites de uma empresa se estendem até o meio ambiente, exigindo que produtos e resíduos sejam desenvolvidos e discutidos entre diferentes empresas. O aspecto mais crítico deste novo conceito é, portanto, a implementação da cooperação efetiva entre empresas. Carlos Araujo da Evonik Industries falou sobre a visão de um fornecedor de catalisadores sobre o programa nacional de produção de biodiesel. Etanol no Brasil: único biocombustível competitivo utilizado em toda a frota de carros, independentemente do preço do petróleo. Para ele existe matéria-prima disponível e capacidade de esmagamento também, com disponibilidade de catalisadores assegurada. Veículos, motores e peças tecnicamente aptos para o B5. Felix Kaup da Potsdam-Institute for Climate Impact Researche da Humboldt-Universitat zu de Berlin discutiu sobre as diferenças e similaridades do setor de biodiesel alemão e brasileiro. Entre as similaridades estão a seguridade energética e promoção de áreas rurais, as estratégias governamentais de agricultura e matérias-primas: produtos agrícolas são considerados matérias-primas estratégicas, fornecendo alimento para a população. Culturas energéticas permitem fornecer energia como a segunda matéria-prima estratégica, desenvolvimento rural e emprego como estratégia política, sendo o Programa Nacional de Produção de Biodiesel - PNPB um programa de emprego e segurança de votos. Fornecimento de energia agrícola promove auto-confiança nas áreas rurais. Contudo, Brasil e Alemanha têm diferentes perspectivas: a Alemanha ainda depende de importações de energia enquanto que o Brasil é auto-suficiente. A agricultura na União Européia é sujeita a regulações e intervenções de mercado, enquanto no Brasil é um importante setor para crescimento nacional e geração de renda. A principal perspectiva é que a biomassa vai ser uma fonte estratégica para segurança alimentar e energética. Cristina Tordin Jornalista - MTB 28499 Embrapa Meio Ambiente |
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